Tão de mansinho ela chegou, pelo telhado, breves miados, na janela da marquise.
Abri, fiz-lhe umas festas. Ventre inchado, pêlo sem brilho, pressenti que havia crise.
Lembrei-me de ter visto noutra rua, à porta de vizinha descuidada,
uma gatinha com tão pouca sorte sua, vidinha triste, e semi-abandonada.
Alguns biscoitos dos meus cães ofereci; tudo foi prontamente devorado.
Olhou-me bem de frente e o que vi foi um gatinho maltratado, magoado.
Deu meia volta, recusou a minha oferta de entrada na marquise. A coitada,
voltou diariamente e, mais aberta, comeu peixe cozido, consolada.
A gata foi entrando, a pouco e pouco, apreciando a carícia, a escovadela.
Eu me deliciei pois, só um louco, não amaria esta bichinha magrizela.
-------------------------
13/5/2008
Laura B. Martins
Soc. Port. Autores nº 20958